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Comissão Mineira de Folclore: em busca de nossa história comum

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Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais - Reprodução
Não devemos confundir o substantivo tradição com o adjetivo tradicionalismo

A sucursal da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) criaram no Brasil, em 1948, uma Comissão Nacional do Folclore, a qual inspirou a criação da Comissão Mineira de Folclore, no mesmo ano.

A Comissão tem como função garantir a paz por meio de cooperação intelectual entre as nações, auxiliando as instituições nos projetos educacionais e na proteção do patrimônio cultural das mais diversas origens. A Comissão Mineira de Folclore realiza pesquisas em parceria com entidades públicas e particulares, promove cursos e atividades no campo do folclore. Realiza, também, projetos estaduais e municipais, colaborando com os estabelecimentos de ensino na aplicação de conteúdos específicos de folclore.

A Comissão Mineira de Folclore surgiu como elemento educacional. Os membros fundadores eram todos ligados ao magistério, a exemplo de Artes da Mata Machado, lingüista; Saul Alves Martins, antropólogo; Flausino Rodrigues Vale, Angélica de Resende e Heli Menegali, professores de música; José Augusto Neves e João Camilo de Oliveira Torres, historiadores.

Depois dos fundadores, os sócios continuadores, também, são ligados às atividades educacionais, como: Antônio Henrique Weitzel, Deolinda Alice dos Santos, Domingos Diniz, José Moreira de Souza, Jupyra Dufles Barreto, Lázaro Francisco da Silva e Romeu Sabará da Silva.

Em 1954, o governador Juscelino Kubitscheck reconheceu a Comissão como de utilidade pública, colaborando com Estado nos assuntos de cultura popular tradicional. Em 1982, o governo estadual firmou convênio disponibilizando imóvel na Rua dos Carijós, Centro de Belo Horizonte com a finalidade de instalar o Centro de Informações Folclóricas e reinstalar o Museu de Folclore, há muito paralisado.

Em 1987, no governo Newton Cardoso, novamente a Comissão é despejada do imóvel da Rua dos Carijós, desfazendo-se do Centro de Informações e deixando o Museu sem espaço físico.

Em 2002, o Secretário de Estado da Cultura, Ângelo Oswaldo de Araújo Santos providenciou junto ao governador Itamar Franco a regulamentação da Lei 3899/1965, que havia criado o Centro de Tradições Mineiras (CTM), colocando a Comissão Mineira de Folclore como um de seus componentes. Na ocasião foi disponibilizada a Serraria Souza Pinto como sede, dando suporte para que ela desenvolvesse seus projetos.

Em 2005, o governador Aécio Neves determinou a desativação do CTM e, novamente, desviou bens e documentos da Comissão Mineira de Folclore. É sintomático o fato de que Aécio Neves adotou a ideologia neoliberal, valorizando somente a cultura de massas, cuja finalidade primordial é o consumo de bens culturais. De forma equivocada, despreza os fatos educacionais e culturais legados pelas tradições.

Não se pode ignorar a relevância que a tradição assume em uma educação para a responsabilidade pela formação ético-política do educando.

Não confundir o substantivo tradição com o adjetivo tradicionalismo. Os modernistas brasileiros, a exemplo de Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade valorizavam as tradições como defesa das identidades nacionais. No dizer de Hanna Harenddt, a tradição é fundamental para que exista o “nós” e não apenas um grupo de “eus”.

Ter uma história comum é fundamental. As quebras dessas tradições costumam resultar em preconceitos; rebaixam a religião à condição de seita ou ideologia; causam confusão na mente dos indivíduos e fragilizam a vida familiar.

 

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS

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Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente representa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida