Lançado em Belo Horizonte, na sexta-feira (14), um relatório mostra o envolvimento de empresas com a violação de direitos humanos durante a ditadura militar. Belgo Mineira, Embraer e Mannesmann são citadas no documento de mais de 90 páginas, que mostra como os grupos foram aliados ao regime ditatorial brasileiro. As duas primeiras têm sede em Minas Gerais.
Segundo o levantamento, foram encontradas conexões e comunicações entre as empresas e agentes da ditadura, ofertas de apoio material ao golpe e a órgãos da repressão, além de militares empregados nas empresas ou indicações de pessoas para trabalhar no regime. O estudo indica que o objetivo da relação era a troca de benefícios econômicos.
Os dados foram apresentados durante evento organizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem (Sindimetal) e a elaboração do relatório faz parte do projeto “Responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a Ditadura”.
Denúncias
De acordo com o relatório, a empresa Belgo Mineira atuou auxiliando a deflagração do golpe, empregando militares, denunciando trabalhadores do movimento sindical aos órgãos de repressão e cedendo espaço físico para a prática de tortura.
Ainda consta no documento as denúncias de que filhas de funcionários envolvidos na luta contra o regime foram vítimas de violência sexual dentro das dependências da companhia e que funcionários da empresa assistiam às sessões de tortura na sede do DOPS. No âmbito trabalhista, foram apontadas jornadas excessivas de trabalho e casos de racismo contra os empregados.
Já a Embraer, é acusada de atuar desde a elaboração do golpe, por ter feito parte do Grupo Permanente de Mobilização Industrial (GPMI), que articulava o empresariado e militares, com o objetivo de municiar os militares de equipamentos bélicos.
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Além disso, a pesquisa diz que a empresa atuou junto a grupos que faziam listas sujas de trabalhadores mobilizados e também realizou denúncias de funcionários aos órgãos da repressão. Entre os casos, o documento cita o de um trabalhador internado contra a própria vontade.
“Foram relatados casos de demissões políticas e prisões arbitrárias, por parte de guardas da empresa, da Polícia Militar e agentes da ditadura, e repressão violenta às greves. Houve caso de internação à força de trabalhador em hospital psiquiátrico, sem que isso estivesse justificado por condições de saúde”, diz o relatório.
Por fim, as denúncias contra a Mannesmann, que hoje faz parte da empresa Vallourec, vem de antes do regime militar. O relatório afirma que a empresa mantinha relações com o regime nazista da Alemanha e financiou a circulação do jornal oficial do partido nazista no Rio Grande do Sul.
Já durante a ditadura militar, a empresa teria tido participação na construção do golpe, no combate aos trabalhadores sindicalizados, além de utilizar policiais da reserva para a segurança armada dentro da empresa.
Houve também, segundo o documento, “prisões de trabalhadores durante a distribuição de panfletos e greves. Um funcionário foi dado como desaparecido, outro foi morto pela polícia e diversos foram torturados”.
Leia o documento completo clicando neste link.
O outro lado
Por email, a ArcelorMittal, empresa a quem atualmente a Belgo Mineira pertence, informou que "A ArcelorMittal esclarece que está acompanhando o processo de investigação dos alegados eventos ocorridos na década de 1960 na antiga Belgo Mineira, época anterior à aquisição da empresa pelo Grupo ArcelorMittal. A empresa reforça seu respeito incondicional aos direitos humanos e à democracia."
Em nota, a Valourec informou que "não possui relação com a Mannesmann desde 2005. As empresas do Grupo Vallourec possuem personalidade jurídica e gestão absolutamente distintas das empresas do Grupo Mannesmann (atualmente denominado Salzgitter Mannesmann), o qual, inclusive, possui atuação ativa globalmente, mantendo operações no Brasil.". Belgo e Embraer não retornaram o contato. Caso haja resposta, a matéria será atualizada.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos