Minas Gerais

Coluna

Ambição por hegemonia

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Foto: Ting Sheng - AFP
Ameaça de Trump em tomar à força o Panamá é continuidade da doutrina Monroe

Frantz Fanon, que atuou como psiquiatra na guerra de libertação da Argélia, deixou, em 1961, um precioso estudo sobre as formas de dominação dos países que hoje se encontram comodamente dominando o resto do mundo. Coloca com clareza a vocação dominadora e espoliadora da Europa, Estados Unidos e França.  Hoje, ele apontaria com propriedade um grupo de sete potências internacionais: Alemanha, Canadá, EUA, França, Japão, Inglaterra e Itália.

Todas essas superpotências foram imperialistas e colonialistas. O capitalismo é um regime econômico que se caracteriza pelo poder dos proprietários dos capitais. Pelos seus efeitos de dominação, pela força de seu avanço tecnológico, pelo seu poder de coação, provocou a divisão do mundo em dois blocos: os países desenvolvidos e ricos versus países subdesenvolvidos e pobres.

A criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), contribuiu para aumentar a dependência das nações do terceiro mundo do grupo dos sete. O endividamento das nações pobres possibilita a interferência direta das superpotências em suas economias obstaculizando-lhes toda e qualquer perspectiva de desenvolvimento. Hoje, vinte países liderados pelo grupo dos sete absorvem 80% do produto interno bruto (PIB) do mundo.  Sobram, portanto, apenas 20% do PIB para mais de 160 países do Terceiro Mundo.

As fortunas de um indivíduo, de um grupo ou de uma nação nunca são conseguidas sem assaltos sobre os trabalhadores, os reais produtores de riqueza. Quando não praticam assaltos a mão armada, sonegam tributos, falsificam produtos, subornam autoridades, usam ideologias como demonstração de religiosidade, caridade e espírito democrático. 

Uma edificação de concreto não pode se sustentar sobre uma base de isopor, assim como nenhum sistema sociopolítico-econômico pode se sustentar sobre o engano e a mentira.  As nações capitalistas e poderosas de hoje usaram a violência, astúcia, a espoliação, a espiritualidade, o racionalismo e o irracionalismo para gerar o chamado Terceiro Mundo.

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O muro de Berlim ruiu. Mas foi edificado um outro maior e mais vergonhoso que aquele: imensas barreiras contra os imigrantes do Terceiro Mundo e o desequilíbrio entre as condições comerciais; exploração desastrosa das riquezas naturais sem recompensas às nações periféricas; reversão de empresas estatais em multinacionais como a Vale do Rio Doce.

“Deixemos essas sete potências que não se cansam de falar do homem enquanto o massacra por toda a parte onde o encontra, em todas as esquinas de suas próprias ruas, em todas as esquinas do mundo. Há séculos que a Europa impede o avanço dos outros homens e os submete a seus desígnios e à sua própria glória; vem asfixiando a quase totalidade da humanidade. A Europa se colocou na direção do mundo com ardor, cinismo e violência. Vemos como a sombra de seus monumentos se estende e se multiplica. Cada movimento da Europa fez estalar os limites do espaço e do pensamento. A Europa recusou-se a toda humildade, a toda modéstia e também a toda solicitude, a toda afeição. Ela só se mostrou parcimoniosa com o homem, mesquinha, carniceira, homicida só com o homem. Então, como não compreender que não nos convém seguir essa Europa?”, disse Fanon no livro “Os Condenados da Terra”, de 1968.

Trump e o expansionismo norte-americano

Agora, a ameaça de Trump em tomar à força o Panamá e o Golfo do México é uma continuidade da doutrina Monroe dos EUA, de 1828, com tinha o slogan “América para os americanos”, que a pretexto de não permitir europeus colonizando a América Latina, na verdade, estavam reservando-a para seus domínios.

Trump quer reacender a ideologia do expansionismo. Anexar o Panamá é fazer uma ponte para ocupação da Amazônia.

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e UNI-BH. Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Sul (PUC-RS).

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Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente representa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida