O black power, que quer dizer “poder negro”, turbantes de cores vivas, roupas no estilo africano, o orgulho da identidade negra. Essa é uma das dimensões da consciência negra, como afirma o filósofo, historiador e militante do movimento negro Marcos Cardoso. São ações e reflexões de pessoas que passaram a se sentir parte da história do seu povo - o povo negro e de descendência africana.
Mas o reconhecimento e pertencimento não acontece para todos da mesma forma. Segundo Marcos, existem dois aspectos que podem determinar esse processo: a formação e a informação de cada indivíduo. Enquanto alguns possuem famílias que, desde a infância, ensinam sobre a negritude, outros adquirem essa consciência por meio da discriminação e preconceito por que passam.
“Ao se perguntar por que está sofrendo, a pessoa começa a tomar consciência de si. A dimensão individual é construída em processos de intenso sofrimento, sobretudo diante da humilhação, da negação da sua humanidade no seu cotidiano. Isso força necessariamente a tomada da consciência negra, da consciência política diante desse tipo de situação”, explica Markim, como é conhecido. “A luta por dignidade pessoal é política”, completa.
Afirmando a negritude
A professora de literaturas africanas Íris Amâncio destaca a consciência negra em outro patamar. Uma vez adquirida, ela precisa ser afirmada por toda a sociedade, brancos e negros, através de atitudes antirracistas. Isso significaria realizar uma reeducação do imaginário da sociedade.
A estratégia é, segundo a professora, colocar em prática ações que ela chama de “discriminações positivas”, que significa “utilizar os critérios do racismo para combater o próprio racismo”. Como no Brasil dois dos maiores fatores de discriminação racial são a fisionomia e a cor da pele, Iris defende que eles podem ser usados ao contrário: que pessoas com fisionomia afrodescendente e pele escura tenham portas abertas em empregos, escolas, concursos, como acontece com as cotas. Assim como passem a ter uma imagem positiva na mídia.
20 de novembro: Dia de Zumbi
O dia nacional da consciência negra, 20 de novembro, relembra a morte de Zumbi dos Palmares, último líder do quilombo dos Palmares, assassinado em 1695. Há décadas o mês de novembro tem se tornado referência para atividades que afirmam a negritude. Para Markim Cardoso, significa também a valorização de um dos mais importantes líderes da América Latina, que traz consigo a consciência da luta pelo seu coletivo.
O movimento que não quis homenagear a princesa
A consciência negra não foi sempre marcada assim. No livro “Educação e Ações Afirmativas” o historiador Oliveira Silveira conta como os negros e negras mudaram a data de lembrança da libertação. Antes, ela era celebrada oficialmente em 13 de maio, dia da assinatura da abolição da escravatura pela princesa Izabel.
“A homenagem a Palmares em 20 de novembro de 1971 foi o primeiro ato evocativo dessa data que, sete anos mais tarde, passaria a ser referida como dia nacional da consciência negra”, escreve Oliveira. O Grupo Palmares, do Rio Grande do Sul, organizou atividades ano a ano até que, em 1978, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNUCDR) escreve um manifesto declarando a data como dia nacional da consciência negra. O governo federal brasileiro somente veio a oficializá-la em 2011, com a lei 12.519.
Edição: Joana Tavares