Minas Gerais

ÁUDIO

O que é um podcast? Para que serve? Conheça algumas sugestões de programas

Com diversidade de conteúdo como notícias, música, artes e games, o formato caiu no gosto de muitos brasileiros

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
ilustração gravação
O Brasil é o segundo país que mais consome podcasts do mundo - Créditos da foto: CCSP

Ainda pode parecer estranho para alguns, mas a verdade é que os brasileiros estão ouvindo cada vez mais podcast. E de todos os tipos possíveis: sobre notícias, música, arte, games, casos policiais, meditação. O Brasil é o segundo país que mais consome podcasts do mundo e, segundo o Ibope, cerca de 40% da população de internet do país já ouviu algum podcasts. Esse número equivale a cerca de 50 milhões de brasileiros.

De acordo com a PodPesquisa 2019/2020, divulgada pela Associação Brasileira de Podcasters (abPod), o universo brasileiro de podcasts ainda é predominantemente masculino, 72% dos ouvintes são homens. A média de idade do ouvinte brasileiro é de 28 anos e os assuntos que mais interessam são cultura pop, humor e comédia, ciência, história e política. O interesse por podcasts sobre feminismo cresceu 8% desde 2018.

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

O que é um podcast?

Basicamente, é um programa de rádio que pode ser ouvido pela internet a qualquer hora, por meio do celular ou do computador. Com temas e duração variadas, o ouvinte pode acessar conteúdos em áudio para se informar, para estudar ou para passar o tempo.

“É uma ferramenta com infinitas possiblidades”, diz Amélia Gomes, que é jornalista e podcaster. Ela, que é a profissional responsável pelo programa de rádio do Brasil de Fato MG, explica que o podcast tem muitas semelhanças com rádio, mas se distingue, principalmente, em relação ao perfil dos ouvintes, que são pessoas que têm acesso à internet, e à grade de programação que o rádio possui, em que o ouvinte consegue interagir ao vivo.

Podcast é um programa de rádio que pode ser ouvido pela internet a qualquer hora

“Geralmente, os ouvintes de rádio não escutam só um programa. As pessoas ficam ali o dia todo. As vezes tem um programa ou outro que a pessoa não perde, mas geralmente o ouvinte é cativo da emissora e não necessariamente do conteúdo”, aponta. Para ela, apesar das semelhanças, o podcast não surgiu para substituir o rádio. “As mídias coexistem porque tem espaço para tudo.  São linguagens distintas, apesar de próximas, e o povo brasileiro tem uma relação muito forte com rádio, sempre teve”, completa.

Como surgiu o podcast?

O podcaster Marcelo Pereira – um dos realizadores do Granma Podcast conta que o podcast surgiu em 2004 a partir da junção de duas tecnologias: a distribuição de arquivos sonoros pela internet, o MP3, e o RSS, um formato de distribuição de informações em tempo real pela internet, que era no princípio utilizada por blogs e páginas de notícias. A partir disso, foi possível agregar vários áudios em um único lugar, facilitando a vida do ouvinte e abrindo portas para a criação de uma cultura do podcast.

40% dos que usam internet no Brasil já ouviu algum podcasts

A popularização dos smartphones e da internet banda larga tem contribuído para aumentar cada vez mais o público da chamada podosfera. Segundo dados do Centro Regional para o Desenvolvimento de Estudos sobre a Sociedade da Informação, vinculado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, três a cada quatro brasileiros acessam a internet. Sobre os dispositivos, smartphones e outros aparelhos móveis são utilizados por 99% da população para se conectar, seguidos dos computadores, que atingem 42% dos usuários de internet.

A somatória desses eventos é vista de forma positiva por Marcelo, que acredita que os podcasts podem ser uma ferramenta importante na democratização da informação no país. “Do ponto de vista de quem ouve, há a facilidade de acesso e autonomia do ouvinte, que pode ouvir o que quiser, onde e quando quiser sem estar preso a uma grade de horário do rádio. Do ponto de vista de quem produz, também pode ser considerada democrática porque é possível produzir um podcast com um custo muito baixo. Claro que o talento e o conhecimento técnico continuam sendo fundamentais, mas é possível produzir um podcast de ‘guerrilha’, com um custo praticamente zero”, analisa.

Mercado lucrativo

Nos Estados Unidos, o mercado de podcast, que é o maior do mundo, atinge cifras milionárias. Estimativas do Interactive Advertising Bureau (IAB), divulgadas antes da pandemia, apontam que em 2021, a indústria estadunidense pode bater o recorde de US$ 1 bilhão de faturamento. Lá, segundo Marcelo, o mercado é dominado por grandes conglomerados de comunicação.

Já no Brasil, o podcast chamou a atenção da mídia comercial, que historicamente domina a comunicação no país, a partir de 2018. Atualmente é mais comum ouvir falar em podcast nas novelas. E as emissoras têm criado conteúdos usando seu quadro de artistas e comunicadores, além de comprar direitos autorais de podcasts famosos, como aconteceu com o Caso Evandro, do Projeto Humanos produzido pelo jornalista Ivan Mizanzuk, que vai virar série da Rede Globo.

Brasil é o segundo país que mais consome podcasts

Mas, apesar do avanço dos grandes conglomerados de mídia para dentro da podosfera ser preocupante, Marcelo alerta que há uma questão mais grave em curso: os investimentos de milhões de dólares do Spotify, que busca ser para o podcast o que o YouTube é para a distribuição de vídeo na internet.

“Os produtores de vídeo têm uma relação de dependência total com a Google, que é a dona do YouTube. Eles precisam ficar constantemente se submetendo às regras sob o risco de perder a audiência ou de ter seus vídeos desmonetizados. E aí perdem sua única fonte de renda, já que não existe uma concorrência para o YouTube”, ressalta.

A distribuição do podcast no Brasil é realizada de forma descentralizada e existem inúmeros aplicativos para ouvir os programas, o que possibilita que boa parte dos podcasts independentes existam para além da internet das grandes plataformas.

Atenção ao conteúdo

Podcast é algo bastante pessoal. No entanto, – assim como todo conteúdo de comunicação disponível na internet, no rádio ou na televisão – é preciso ser consumido de forma crítica.

Segundo Amélia Gomes, fazer uma leitura crítica da mídia significa conhecer as pessoas que produzem, conhecer de onde que elas vêm, entender o que está por trás do que está sendo dito no episódio, buscar saber a trajetória das pessoas, buscar recomendações com amigos etc. “É importante também dar preferência pra iniciativas contra hegemônicas, feitas por comunicadores populares e educadores”, observa.

Como ouvir um podcast

Baixe no seu celular um “agregador de podcasts”. Existem várias opções gratuitas, é só escolher um;

Se cadastre no aplicativo e se inscreva nos podcasts de sua preferência;

E pronto! É só ouvir! Todos os episódios novos serão notificados no seu telefone.

Dicas de conteúdos

- O portal Podosfera Antifascista engloba diversos podcasts com diferentes temáticas. Todos contra o fascismo e autoritarismo. Um exemplo é o Medicina em Debate, podcast sobre medicina, saúde, política e opinião. E outro é Granma, sobre temas diversos relacionados à revolução dos pensamentos, do modo de vida, da forma de ver e entender a sociedade.

- A Rádio Novelo é uma produtora de podcasts que desenvolve projetos próprios e em parceria. Um deles é Praia dos Ossos, sobre assassinato de Ângela Diniz, e outro é 451 MHz, sobre literatura.

- A Rádio Batente é a central de podcasts da Repórter Brasil. Os programas debatem temas relacionados ao mundo do trabalho e, mais recentemente, o Cova Medida discute a violência e impunidade no campo.

-  A Central3 é uma produtora independente de podcasts com produção diversa autoral e com parcerias. Entre os programas, há o Travessia, sobre música popular brasileira, o Pontapé, sobre o mundo do futebol, e o Xadrez Verbal, sobre política internacional.

- Rádio Guarda-Chuva abrange seis podcasts, realizados a partir do jornalismo profissional e independente. Entre os programas, está o Vida de Jornalista, sobre questões relacionadas ao dia a dia da profissão.

Mais algumas dicas

- Chutando a Escada, sobre política internacional.

- Feito por Elas, sobre cinema realizado por mulheres.

- Vamos Falar Sobre Música, sobre cultura pop e os últimos lançamentos musicais.

- Autoconsciente, sobre meditação, reflexões sobre a mente e emoções.

- Revolushow, sobre teoria marxista e revolucionária.

- Cirandeiras, sobre feminismo, mulheres e suas lutas em cada canto do Brasil. 

- Afetos, sobre saúde mental, terapia e subjetividades.

- Fogo No Parquim, sobre marxismo, política e feminismo.

Edição: Elis Almeida