Minas Gerais

MINERAÇÃO

Vazamento de barragem da AngloGold atinge rio Conceição em Santa Bárbara (MG)

Local produz cerca de 15% de ouro comercializado no Brasil. Substâncias são altamente contaminantes

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
Vazamento ocorreu na barragem Córrego do Sítio (CDS) I - Foto: Vídeo publicado nas redes sociais

Moradores do município de Santa Bárbara (MG) denunciaram, por meio das redes sociais, que desde a noite de terça-feira (04) as águas do rio Conceição apresentam cheiro forte e coloração turva. Na tarde de quarta (05), a mineradora AngloGold Ashanti, que possui duas minas de extração de ouro no município, emitiu uma nota publicizando o fato.

Segundo a mineradora, houve um vazamento da planta industrial da mina de Córrego do Sítio, o qual teria sido estancado, não havendo “impacto direto em vegetação ou solo”. Os moradores contestam e relatam que o rio continua muito turvo e com odor forte.

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A Anglogold possui duas barragens na cidade: a Córrego do Sítio (CDS) I, com capacidade de 282 mil m³, e a CDS II, capacidade de 9,8 milhões de m³, além de outras estruturas. O vazamento teria acontecido na CDS I.

Contaminação de risco

Segundo Luiz Paulo Siqueira, da coordenação nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), o vazamento deve ser encarado com preocupação, pois aconteceu no tanque de cianetação, onde a mineradora realiza o beneficiamento do ouro extraído. Local que possui muita concentração de arsênio e cianeto.

“Todos sabem que a planta industrial da AngloGold utiliza inúmeros metais pesados no processo de beneficiamento do ouro”, conta, “há pesquisas acadêmicas registrando que a alta concentração de metais tóxicos e o cheiro próximo à mina é muito forte. O vazamento é gravíssimo. Coloca em risco a biodiversidade e qualidade da água, que é utilizada por várias comunidades para consumo, irrigação e pesca”.

“São metais comprovadamente carcinogênicos, que além da toxicidade podem trazer complicações de diferentes ordens para o meio ambiente e saúde humana”, destaca ainda. Na Bacia do Rio Doce, por exemplo, contaminada pelo rompimento da barragem da Samarco em 2015, a alta concentração de arsênio e outras substâncias passaram a provocar doenças de pele.

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O MAM relata que o vazamento é mais um fato, dentre um recorrente descaso da mineradora com a região de Santa Bárbara. O movimento relembra que a empresa ainda não reparou o trauma causado com o acionamento equivocado das sirenes das barragens de rejeitos no início deste ano, e as comunidades ainda sofrem com os impactos de detonações, contaminação, poeira e continuidade das atividades minerárias em meio à pandemia.

De acordo com dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), a mineradora AngloGold Ashanti extraiu, de Santa Bárbara, 14,7% de todo o ouro comercializado pelo Brasil em 2020.

Nota da empresa

A AngloGold Ashanti contesta a denúncia dos moradores de que o vazamento aconteceu na barragem. Segundo a mineradora, o vazamento aconteceu na planta industrial. O posicionamento da empresa:

"Na manhã de quarta-feira (5/05), a AngloGold Ashanti identificou um vazamento na Planta Industrial da mina Córrego do Sítio, em Santa Bárbara.O vazamento já foi estancado e não houve impacto direto em vegetação ou solo.

A empresa realizou a limpeza necessária do local. Reforçamos, ainda, que os órgãos públicos responsáveis foram comunicados sobre o fato: Núcleo de Emergência Ambiental (NEA) da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santa Bárbara."

Com informações da Comunicação do MAM.

Edição: Elis Almeida