Minas Gerais

APAGÃO

MG: Recenseadores do IBGE paralisaram atividades nesta quinta-feira (1º)

Após cortes no recurso e adiamento de dois anos, população se recusa a responder Censo e trabalhadores ficam sem salário

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Crédito - IBGE

Recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) paralisaram as atividades em todo o Brasil nesta quinta-feira (1º). Mesmo sem a realização de manifestações de rua, muitos trabalhadores de Minas Gerais aderiram ao movimento e passaram o dia em casa. Entre os motivos da mobilização, estão as dificuldades em receber pagamentos e as más condições de trabalho.

O Censo Demográfico, realizado pelo IBGE, auxilia na compreensão da realidade dos brasileiros. Para isso, os recenseadores vão de casa em casa e coletam dados como a escolaridade, o acesso à saúde, a religião e características étnico-raciais das famílias. As informações obtidas são importantes, por exemplo, para elaboração de políticas públicas.

Resistência e desinformação

Mesmo com a relevância de seu trabalho, os recenseadores relatam pouca assistência e muita desinformação da população sobre o objetivo e importância do levantamento.

“Além da falta dos salários, por não conseguirmos fazer todas as entrevistas, nós estamos vivendo uma realidade na qual as pessoas estão sendo muito agressivas. Casos de racismo já aconteceram aqui em Belo Horizonte, por exemplo. Pessoas que gritam dizendo que não vão responder ao questionário. Enquanto isso, a gente só quer fazer nosso trabalho”, explica um Agente Censitário Supervisor (ACS), que prefere não se identificar por medo de represálias.

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O homem coordena um grupo de recenseadores que atua na capital mineira e conta que o aumento da recusa da população em responder ao questionário tem gerado problemas aos trabalhadores. Isso porque, para receberem pelo trabalho, cada recenseador precisa cumprir uma determinada cota de aplicação de questionários.

“A gente tá numa realidade na qual alguns recenseadores estão com apenas 70% da cota concluída e 30% de recusa. Não há meios de convencer as pessoas e, ao mesmo tempo, o IBGE fala que ‘temos que vencer pelo cansaço’. Então os trabalhadores ficam retornando, às vezes sete vezes, e não conseguem”, relata o ACS. 

Reconhecendo a importância da realização do Censo, o ACS destaca que a falta de informação tem dificultado a coleta de dados e, o cumprimento da cota de questionário dos trabalhadores, necessário para receberem os salários. “Para que o IBGE possa produzir informações confiáveis é necessário que uma grande parte da população responda. Porém, isso não pode ser condição para que o trabalhador receba seu pagamento”, conclui. 

Posição do IBGE

Em resposta a redação do Brasil de Fato MG, o IBGE informou que “a coleta do Censo 2022 transcorreu normalmente em 1º de setembro de 2022” e “recenseadores pediram para conversar com as superintendências do IBGE em alguns estados”, tendo sido “recebidos e ouvidos”. E que “99% dos problemas de atraso no pagamento dos recenseadores já foram sanados” e que “novos procedimentos na rotina de pagamentos foram adotados, a partir desta semana, para agilizar o processo”.

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Destacou também que “os recenseadores do Censo 2022 são servidores públicos federais. Crimes contra eles são sujeitos a investigações federais”.

Atraso

O Censo Demográfico ocorre de dez em dez anos e o último foi realizado em 2010. Previsto para ser realizado em 2020, diversas entidades alertaram sobre os ricos de um “apagão de dados” no país devido ao adiamento da realização do Censo Demográfico. Em 2021, o orçamento do governo federal previu um corte de R$ 1,76 bilhão do valor destinado à realização da pesquisa, o equivalente a um enxugamento de 96%, o que inviabilizou sua realização.

Em artigo, publicado pelo Brasil de Fato MG, a economista Isadora Pelegrini comemorou a realização do levantamento e destacou sua importância.

“Receba bem seu recenseador. A função dele é coletar informações verídicas, necessárias para mapear a realidade concreta e compreender a situação do país com fatos e dados verdadeiros, combatendo toda e qualquer fake news. O trabalho que ele está fazendo é importantíssimo”, afirmou.

Edição: Elis Almeida