Minas Gerais

15 DE OUTUBRO

Mesmo com desvalorização da carreira, professoras mineiras têm esperança de um futuro melhor

Trabalhadoras acreditam que, ao compartilhar conhecimento, a profissão ajuda a mudar o mundo

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Dados do Censo Escolar de 2021, realizado pelo IBGE, indicam que, em MG, existem, aproximadamente, 53 mil professores de ensino infantil, 138 mil de ensino fundamental e 30 mil do ensino médio. - Foto: Agência Brasil

Nascida no município de Medina, na região do Vale do Jequitinhonha, Sônia Mascarenhas, de 64 anos, é professora aposentada da rede pública de Minas Gerais. Já Alessandra Pinheiro Silva, de Belo Horizonte, que acabou de completar 23 anos de idade, há apenas cinco meses começou a ministrar aulas de biologia para estudantes dos anos finais do ensino fundamental da capital mineira.

Com a chegada do Dia do Professor e da Professora, que é comemorado em 15 de outubro, as duas mulheres refletem sobre a trajetória que as fizeram escolher as salas de aulas como seu local de trabalho.

O intervalo entre o nascimento de uma e outra é de quase 40 anos, e as cidades de onde elas vêm possuem características econômicas, sociais e culturais muito diferentes. Ainda assim, elas atribuem ao mesmo sentimento o motivo pelo qual são professoras: a vontade de ajudar a mudar o mundo.

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Sônia conta que, durante sua juventude, na região onde morava, eram poucas as opções de trabalho e de formação, em especial para as mulheres, restando, muitas vezes, apenas a oportunidade de fazer um curso de magistério e se tornar professora.

Ela relata ao Brasil de Fato MG que teve a opção de sair e conhecer um outro trabalho, na Polícia Rodoviária Federal. Porém, segundo Sônia, a outra experiência profissional apenas fez com que ela tivesse certeza de que seu lugar era na escola.

“A missão me chamou de volta. E, a missão da professora é muito grande. É de ir moldando, transformando a sociedade, melhorando, dando a nossa contribuição para que a humanidade seja cada vez melhor. Eu me encontrei nisso”, relembra a aposentada.

Partilha de conhecimento

É comum nos dicionários da língua portuguesa definir professores e professoras como quem ensina ou detém conhecimento. Para Alessandra, que entrou no universo da profissão em um contexto marcado por mais oportunidades, em comparação com a época em que Sônia pisou pela primeira vez em uma sala de aula, a palavra que melhor define a atuação docente é “partilha”.

Ela conta que é justamente a troca entre professores e estudantes, que permite com que os filhos das classes populares se apropriem do conjunto de saberes acumulado pela sociedade, o que mais a cativou.

Por isso, Alessandra acredita que a docência é a “profissão mais importante que existe”, porque tem um potencial de democratizar o acesso ao conhecimento e, quando estimula o pensamento crítico, é determinante para formar novos valores, estimular outras formas de relações sociais, identificar as contradições do presente e pavimentar um futuro melhor.

“Minhas professoras foram muito importantes para eu desenvolver o pensamento crítico e me tornar um ser humano que busca construir novas formas de se relacionar com as pessoas e com o meio em que vivemos. Por isso, eu acho que é a profissão mais importante que existe. Além da troca de conhecimento, a educação tem potencial para mudar o mundo. Por isso, eu quis ser professora”, explica Alessandra.

Falta de valorização

Dados do Censo Escolar de 2021, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que, em Minas Gerais, existem, aproximadamente, 53 mil professores de ensino infantil, 138 mil de ensino fundamental e 30 mil do ensino médio.

Uma das mais numerosas do estado, a categoria enfrenta anos de luta e mobilizações por valorização. Para se ter uma ideia, mesmo após 15 anos da Lei do Piso Nacional do Magistério, o direito não é garantido aos profissionais mineiros.

Atualmente, ao ingressar na carreira em Minas Gerais, o professor recebe R$ 2.653. Até janeiro deste ano, o piso estava em R$ 3.845,63. Após o reajuste feito Ministério da Educação (MEC), o valor chegou a R$ 4.420,55 para os profissionais que têm jornada de 40 horas semanais.

Porém, em reunião da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), no dia 22 de setembro, a professora e coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG), Denise Romano, denunciou que, ao longo dos cinco anos do governo de Romeu Zema (Novo), nunca foi praticado o reajuste do piso no estado.

Ela ainda afirmou que o governador ataca a Lei 21.710, conquistada pelos educadores em 2015, que regulamenta o piso em Minas Gerais e abarca todos os trabalhadores em educação, para além do magistério.

“O governo Zema usa todas as estratégias, armas e narrativas para falsear a lei federal e para destruir a Lei 21.710, que foi uma conquista nossa de muita luta, muita greve, muito suor e muitas lágrimas”, enfatiza Denise Romano.

Esperança

De fato, Sônia Mascarenhas relata que, durante toda a sua trajetória na educação, o principal desafio enfrentado foi a desvalorização. Para além dos baixos salários, ela descreve uma realidade marcada por condições ruins de trabalho.

“O principal desafio é a falta de valorização que o professor e a educação têm. As condições de trabalho são muito ruins, as cargas horárias são exaustivas e isso desestimula muita gente que teria condição de fazer um bom trabalho” diz a professora aposentada.

A opinião de Sônia é endossada por Alessandra Pinheiro Silva que, ao ser questionada sobre a perspectiva de futuro na profissão, responde que se apega na esperança de que os políticos e a sociedade em geral reconheçam cada vez mais a importância da docência.

“Nós não trabalhamos só por amor. Precisamos de reconhecimento e condições dignas. Mas, eu tenho esperança de que as coisas vão melhorar, justamente pela importância dos professores na vida de todas as pessoas”, conclui Alessandra.

 

Edição: Larissa Costa