Minas Gerais

PRESERVAÇÃO

Lançado neste mês, livro resgata memórias e saberes de comunidades atingidas em Mariana (MG)

Segundo a autora, riquezas culturais da cidade não podem “morrer cobertas de lama”

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
A publicação é uma compilação de artigos, fotos, ilustrações e transcrições de relatos orais de histórias de vida de comunidades atingidas pelo rompimento da barragem - Foto: Divulgação

Regeneração, cura e preservação de antigas memórias. Essas são três palavras que definem o lançamento de Mariana, o Livro dos Minerais, terceiro volume da série Árvores, Memórias e Reflorestamentos.

A publicação é uma compilação de artigos, fotos, ilustrações e transcrições de relatos orais de histórias de vida de comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, em Bento Rodrigues, na cidade de Mariana, em Minas Gerais. O crime, cometido pela mineradora Vale, é conhecido como uma das maiores tragédias ambientais do Brasil.

Segundo a autora Mo Maiê, o livro é a materialização de uma ideia provocada pelo rompimento, momento em que ela, que é atingida, buscava compreender como colaborar com as demais pessoas que sofrem com as consequências do crime.

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“Foi assim que este projeto nasceu, buscando reconhecer a importância das histórias de mestras e mestres griôs de nossas comunidades atingidas, como potência de continuidade transgeracional de antigos saberes e fazeres, que podem sobreviver mesmo diante de uma realidade de morte, ecocídio e destruição”, explica.

Para ela, mesmo que os territórios tenham sido devastados, é importante preservar as lembranças, as cantigas, os gestos, as danças, entre outras diversas riquezas culturais da cidade que, em sua visão, não podem “morrer cobertas de lama”.

A versão do livro digital está disponível online para download. Clique aqui.

A criação

Mo Maiê relembra o processo de construção do livro como dois movimentos que se harmonizaram: a introspecção e o reencontro com a natureza e com recentes e antigas histórias sobre Mariana e sobre Minas.

“Visitamos quatro territórios atingidos, escutamos e conversamos com cinco mestras e mestres, acompanhadas por uma pequena equipe de artistas de nossa região, responsáveis pelos registros audiovisuais, já que além do livro, também virão os podcasts dessas vivências”, detalha.

A autora conta que, a cada visita a campo, mesmo diante da tristeza provocada pelas consequências da tragédia, conseguiu transformar essa dor em histórias de vitória e reinvenção do mundo.

Reflorestamentos

Lançado oficialmente no sábado (16), como parte do evento Conexões Urbanas - Natal de Cria, em Mariana, o livro integra uma série formada por ebooks, fanzines, documentários e podcasts, e teve sua primeira publicação em 2021.

A primeira edição, chamada Livro de Areia, nasceu no Senegal, na África, a partir das vivências e pesquisas relacionadas a instrumentos musicais e percepções africanas. Já o segundo, o Livro das Árvores, teve origem na Bahia, na junção dos saberes de mestres africanos e latino-americanos.

A ideia central da coletânea é pautar o reflorestamento cultural, uma tecnologia social que, a partir da ancestralidade, conta histórias vindas da escuta afetiva e intercâmbio de saberes.

Edição: Larissa Costa