Minas Gerais

AMÉRICA

PAPO ESPORTIVO | No tribunal das redes sociais, Ribamar foi execrado

Os negros costumam ter que mostrar mais do que os brancos para serem aceitos

Belo Horizonte |
"Que tal, então, torcedor americano, apoiar a contratação e aguardar o desempenho do "Ribagol'?" - Mourão Panda / América Mineiro

Durante a semana, o América anunciou e apresentou sua mais nova contratação para a temporada 2021: o atacante Lucas Ribamar, ex-Athletico-PR, Botafogo e Vasco. E chamou a atenção a enxurrada de críticas e de brincadeiras pejorativas nas redes sociais. 

A primeira postagem anunciando a contratação do atacante no Twitter oficial do América recebeu mais de 1000 comentários, bem acima da média. E a grande maioria dos comentários foram depreciativos. Do tipo “Só começou a ir mal depois da cirurgia, a cesária que a mãe dele fez quando ele nasceu” ou de um torcedor do Vasco: “Gerou em mim, possivelmente, um dos piores sentimentos que uma pessoa pode sentir: ódio MORTAL” ou, ainda, “ele é simplesmente incapaz de praticar futebol”. 

A cultura da impaciência e do cancelamento também faz escola no futebol. Vendo esse caso, me lembrei de tratamento semelhante dispensado ao zagueiro Paulão “Caveirão”, quando chegou ao América, em 2018. Em campo, a despeito da zueira dos torcedores anteriores e da impaciência dos americanos, acabou sendo um dos melhores jogadores do time nos meses seguintes, até voltar para um clube então na Série A.

A semelhança de Paulão e Ribamar? São negros.

Naturalmente, esse comportamento dos torcedores envolve diversas outras variáveis, inclusive, claro, o real desempenho do atleta. E uma afirmação categórica de possível racismo precisaria de observações mais aprofundadas. Mas não é segredo para ninguém que o racismo estrutural no Brasil constrói situações e ambientes de muito mais dificuldade para os negros nos espaços do cotidiano, inclusive no trabalho. 

Os negros costumam ter que mostrar mais do que os brancos para serem aceitos. E a paciência das pessoas com eles costuma ser bem menor. Não é sem razão, portanto, acreditarmos que nesse comportamento com Paulão e, agora, com Ribamar, tenha um certo elemento racista, ainda que inconsciente ou ainda que “justificável” do ponto de vista do desempenho anterior do atleta.

Que tal então, torcedor americano, apoiar a contratação e aguardar o desempenho do “Ribagol” para, se for o caso de mau desempenho, criticá-lo? 

Para voltar à negritude: a base do nosso time é de jogadores negros, inclusive o capitão Juninho e os dois melhores da equipe - Messias e Ademir. Que nesse mosaico de cores, origens e etnias, sigamos como um time acolhedor, simpático e plural. 

Edição: Wallace Oliveira