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Falta de equipamentos de segurança marca volta às aulas em BH

Assim como trabalhadores da rede pública, professores da educação privada também projetam uma greve sanitária

Belo Horizonte |

Ouça o áudio:

Sindicalista também critica a postura de veículos comerciais de comunicação que endossam ideia de volta às aulas a todo custo - Divulgação SINPRO

Fechadas desde o início da pandemia, creches e escolas privadas da educação infantil de Belo Horizonte voltaram a funcionar com aulas presenciais na última segunda (26). De acordo com a Prefeitura de BH, a medida é facultativa e as unidades de educação devem obedecer ao protocolo para evitar o contágio pelo coronavírus, como uso de máscaras e distanciamento social.

Em entrevista ao Brasil de Fato MG, Valéria Morato, presidenta do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais - SINPRO/MG - entidade que representa os professores da educação privada infantil de BH - afirma que professores já relatam falta de equipamentos de segurança como máscaras nas escolas e denuncia que algumas instituições têm constrangido os trabalhadores a voltarem as atividades presenciais.

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De acordo com Morato, o SINPRO / MG entrou com ações na justiça e reclamações na vigilância sanitária para denunciar os casos. Assim como trabalhadores da rede pública, a categoria também projeta uma greve sanitária contra a imposição da prefeitura de Belo Horizonte de retomada do ensino presencial. Ouça a entrevista e saiba mais.

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Brasil de Fato MG: Como está a categoria nesta primeira semana de retomada das aulas presenciais?

Valéria Morato: Estamos com uma grande incerteza, uma grande angústia. Hoje, sabemos que a nova cepa não tem atingido somente as pessoas com comorbidades. Um grande número de infectados são jovens com idade de 30 a 50 anos, que é a idade de professoras e professores que trabalham com educação infantil.

Mais do que isso, nós sabemos da impossibilidade do cumprimento de protocolos sanitários que são eficazes, como a utilização de máscaras e o distanciamento físico. Na educação infantil não é possível, nem os professores ficarem distantes das crianças e nem as crianças distantes de outras crianças. Na segunda-feira (26), já recebemos vários pedidos de socorro.

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BdF MG: Quais relatos têm chegado? Você falou sobre a impossibilidade do cumprimento de protocolos sanitários.

Temos várias denúncias, inclusive com fotos. Há relatos de escolas que não fornecem equipamento de proteção individual, os próprios professores têm que levar, outras não aceitam o atestado de professores que têm comorbidade. Constrangem professores que estão impossibilitados e os obriga a trabalhar presencialmente.

O protocolo da prefeitura, por incrível que pareça, recomenda a não volta ao trabalho daqueles que tem comorbidade. Mas recomenda, não impõe. Na educação privada em especial, essas recomendações nunca são respeitadas.

BdF MG: Nos veículos comerciais de comunicação temos visto muito incentivo para a retomada do ensino presencial.

Nós estamos num momento muito ruim para os brasileiros e brasileiras, de desvalorização do serviço público. A política pública mais atacada no momento é a educação. E a mídia, que tem muitas propagandas das instituições privadas, tem feito o papel de convencer a população de que o retorno às aulas presenciais é possível e é inconsequente, ou seja, não traz consequência aos estudantes.

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E precisamos ver o que tem acontecido na cidade. Da semana passada para cá, temos visto o número de infectados em Belo Horizonte aumentando. No dia do anúncio do retorno presencial das aulas na cidade, estávamos com [o RT] 0.89 de infecção, hoje, já estamos em 0.96. O que significa um número muito alto.

BdF MG: Vocês, do Sinpro, têm sofrido ataques dos pais nas redes sociais questionando a decisão dos professores de não voltarem presencialmente sem a vacinação da categoria. Como tem sido?

Quando vamos buscar quem são as pessoas que nos atacam, são pais ou usuários da educação privada fundamentalistas, negacionistas, e que tem um discurso de que os professores e professoras não querem trabalhar. O que é um total absurdo, uma desvalorização. Essa é uma pessoa que não teve nenhum acesso a como ficou a educação nessa pandemia.

Os professores e professoras não pararam de trabalhar nem um dia. Pelo contrário, estão trabalhando muito mais, porque, além de cobrar dias a mais, as escolas estão juntando turmas. Ao invés de dar aula para duas turmas de 30 alunos, o professor está dando aula para uma turma de 60. Isso é muito mais difícil. E os professores conseguiram manter o vínculo com estudantes no ano passado e continuam mantendo neste ano.

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Estamos chamando atenção dos pais para verem o que realmente está acontecendo nas escolas. A maioria das escolas privadas fizeram um termo de responsabilidade, para os pais assinarem, isentando a escola de responsabilidade na infecção do seu filho. Se o retorno fosse seguro, as escolas não estariam fazendo essa carta de compromisso se isentando.

BdF MG: Quais os próximos passos que a categoria tem pensado para enfrentar essa realidade que está posta?

Bem, fomos surpreendidos com esse retorno, quando Kalil cedeu aos donos de escola. É importante salientar que a presidenta do sindicato dos donos de escolas estava do lado da Secretária Municipal de Educação na hora da entrevista coletiva. Isso é bem sintomático. Mas desde então, buscamos formas de acionar a Justiça.

Entramos com uma ação, com medida de urgência, no dia 22 de abril, pedindo que o retorno presencial fosse impedido. Estamos aguardando e esperamos que não seja necessário morrer professores antes que a Justiça se manifeste. Já denunciamos na Vigilância Sanitária e vamos agora entrar com ação judicial contra as escolas que estão descumprindo os protocolos sanitários básicos.

Para além disso, fizemos uma reunião no último fim de semana com quase 300 professores pelo Webinar, pois professores estão sendo assediados por participarem de reuniões do sindicato. O Webinar é sigiloso e só se manifestam pela via anônima. E foi definido que além das ações, chamaremos uma próxima assembleia, agora com indicativo de greve sanitária.

Edição: Larissa Costa e Amélia Gomes