Minas Gerais

A FORÇA DO POVO

Artigo | Milagres do povo mineiro

Clube retorna à série A graças ao apoio da torcida

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Vinnicius Silva - Cruzeiro

“Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar”

Foram três anos de espera. Foi no dia 10 de dezembro de 2019, alguém que amou demais e, aos 86 anos, não foi capaz de suportar a queda. Ela não pedia nada em troca. Limpou por 30 anos, literalmente, o chão do clube, na lida da faxina, e construiu um santuário azul na sua humilde casa em Contagem para alimentar a sua fé no Cruzeiro.

Tal como conta Caetano sobre a relação de Jorge Amado com a fé no trecho musical acima, Dona Salomé sabia que manter essa fé no Cruzeiro era acreditar no povo. Um milagre não viria de outra forma, senão através do próprio povo. Aquele mesmo que viu nos últimos dois anos a nossa bola não entrar, o gol do adversário nos acréscimos do segundo tempo, técnicos insignificantes nos dispensarem, o risco de se rebaixar ainda mais, o fim de semana já amargo na sexta-feira, os ratos fugirem da “Toca” sem qualquer responsabilização. Quanta coisa!   

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Foram dois anos sem público nos estádios. Acompanhamos com angustia e à distância o suplício do nosso clube, o que se transformava em nosso suplício. Nos restava voltar, se materializando no estádio e nas ruas. Voltamos, literalmente. Mais do que isso, voltamos como vivemos, nos braços e carregados pelo nosso povo, aquele que nunca abandonou e no pior momento permaneceu, a China Azul. Aquela torcida em azul, que das cinzas se forjou em uma cabulosa fênix, capaz também de materializar milagres.

Seja enquanto sujeito coletivo, seja o indivíduo, a esperança era a retomada no olhar das pessoas. Qual cruzeirense não se sentiu um pouco como Dona Elizabeth, mulher negra do interior mineiro, ao ver a caravana do Cruzeiro visitar a sua cidade? O Cruzeiro saía do seu imaginário e podia ser tocado pela sua gente. As palavras dela são um pouco das nossas: “Minha emoção é o Cruzeiro, meu amor é o Cruzeiro, o Raposão, a Raposinha, Ronaldo, todo mundo que está em campo. Quando o time está jogando, eu também chuto, também faço gol. Na hora dos jogadores cumprimentarem a torcida após os jogos, eu também bato palma junto”.

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Todos chutamos a gol e batemos palma como e com você, dona Elizabeth. Foi por isso que o milagre aconteceu, porque o povo o materializou, o povo voltou.

O momento não poderia ser diferente, quando o nosso Bituca, aos 80, faz a sua última viagem e se despede dos bailes da vida, o Cruzeiro voltará aos grandes palcos. A vida não para, ela é travessia! Hoje, o cruzeirense volta com “a roupa encharcada e a alma repleta de chão”, pois entendeu que o Cruzeiro deve ir aonde o povo está.

Edição: Wallace Oliveira